sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

São Paulo submersa

Pela manhã avistei o céu cinza e gotas de chuva caindo sobre os vidros de minha janela. Liguei a televisão e a manchete era corriqueira “São Paulo tem 30 pontos de alagamento, mais de mil famílias estão desabrigadas e a previsão é de chuva intensa durante a tarde”, isso já não é novidade, pelo menos, a nenhum paulista. Porém havia algo desconcertante no telejornal, uma notícia dramática e tocante “Pai, mãe e filha de 14 anos morrem em desabamento." Isso afetou o meu dia.

No ônibus a caminho do trabalho, em meio ao trânsito caótico e muita chuva, comecei a refletir. Por quê? Existe um motivo? Há solução? Quanto tempo ainda minha cidade sofrerá com enchentes, deslizamentos, falta de estrutura? Serei sincera: não encontrei respostas. Na realidade, não há solução para nossa cidade de pedra enquanto a chuva perdurar. Especialistas afirmam isso, geólogos, engenheiros da Sabesp e outros entendidos do poder público. Estamos a mercê da sorte, ou melhor, da previsão do tempo.


(Foto: Camila Ribeiro/Desconnexo)
Moradores de áreas de risco do Jardim Pantanal, zona leste, protestando na Subprefeitura de São Miguel Paulista.


Não resido em área de risco, mas me imaginei na situação da família que foi tragada e morta pela terra barrosa: “Eu e meus pais assistindo ao telejornal, depois de um dia de trabalho e compromissos, em nossa sala. De repente escutamos um barulho e, ainda com a televisão ligada, nossa casa começa a balançar, em segundos todos gritamos, como se isso pudesse nos salvar. Unidos, nos abraçamos. Fechamos os olhos rogando por salvação. Rapidamente somos engolidos pela lama. Tudo o que resta de nossa casa são escombros. Chamávamos os vizinhos que desesperados tentavam retirar os nossos corpos de lá. Porém não havia solução. Em um último suspiro o que falar? O que pedir? Nada. Agora não mais dor.”.

A família que morreu hoje em Francisco Morato, não é um exemplo isolado. Em São Paulo, segundo o Correio Braziliense, 50 pessoas já foram mortas em decorrência da chuva. Infelizmente, não serão os últimos.

Camila Ribeiro, para o Desconnexo

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